segunda-feira, outubro 30, 2006

Resumo do texto :“A distinção banalizada?Perfis sociais dos públicos da cultura”

Neste texto, Rui Telmo Gomes faz uma análise sobre os processos de constituição de públicos de cultura. Os dados obtidos para este estudo foram tirados de trabalhos realizados pelo Observatório das actividades culturais sobre dois eventos que foram o Festival Internacional de Teatro de Almada e o Porto 2001, capital Europeia da Cultura. Estes estudos foram feitos por via de inquérito, o que vai permitir ao autor fazer também uma reflexão sobre as potencialidades e os limites deste método quantitativo.
A continuada aplicação do método inquérito neste domínio de pesquisa, nas ultimas décadas tem indicado que a os recursos escolares elevados e o alto nível de qualificação profissional, associam-se a uma maior probabilidade de consumo cultural e de frequência de eventos e equipamentos culturais.
Se tomarmos por referencia a linha de pesquisa desenvolvida no âmbito do Départament dês Études de la Prospective (DEP) do ministério da cultura francês constatamos que as politicas orientadas para a democratização e alargamento das práticas culturais tiveram efeitos muito limitados. Porém tem-se vindo a verificar importantes transformações na população francesa, ao nível da relação com a cultura. O estudo feito por inquérito que nos tem dado estes indicadores, aponta que começa a haver uma diversificação das práticas culturais e uma correlativa alteração da hierarquia da classificação das artes. Esta diversificação vem esbater o primado das práticas culturais legítimas (próprias da cultura legitimada) e favorecer a possibilidade de combinatórias entre práticas múltiplas (mais cultivadas e mais lúdicas). É possível concluir através dos resultados dados pelos inquéritos, o peso das desigualdades sociais sobre as práticas culturais, no entanto parece que o inquérito enquanto instrumento metodológico de estudo de públicos, vocacionado para a identificação de factores recorrentes de desigualdades parece caminhar para um ponto de impasse quanto ao seu valor heurístico.
É importante no estudo do público a sua relação com as práticas culturais, identificar as diferentes combinatórias de práticas culturais e de lazer e a correspondência entre essas combinatórias e o perfil dos respectivos praticantes. Nesse sentido, são de destacar duas vertentes de análise na segmentação dos públicos. Por um lado, a elaboração de tipologias de públicos e praticantes culturais e por outro lado, a identificação de diferentes combinatórias de práticas culturais, tendo em conta os diferentes modos de relação com a cultura.
A partir de identificação de perfis sociais de consumidores culturais, a análise aí desenvolvida faz notar transformações ao nível das formas de relação com cultura e dos processos de formação de gosto. É destacado, como processo de transformação a “des-sacralização” das formas de recepção cultural, que parece corresponder ao desassociar do consumo cultural a uma cultura de elite.
Poderíamos pensar, com base nos resultados já obtidos que no caso português, este processo se espelhasse nas camadas mais jovens, devido ao recente alargamento e alongamento da escolaridade na sociedade portuguesa. Porém tem-se vindo a verificar que este público mais jovem, possuidor de capitais escolares elevados, tem uma relação algo distanciada com a cultura.
A análise dos dois eventos atrás referidos, que são a base deste estudo, permitiu desenvolver uma abordagem tipológica e portanto categorizar diferentes tipos de consumidores culturais. Foram identificados os públicos cultivados que se caracterizam pela articulação entre elevados recursos qualificacionais e a regularidade das práticas culturais. Este grupo caracteriza-se por outro aspecto que consiste num ecletismo que abrange cumulativamente práticas cultivadas com práticas mais lúdicas. Pode-se dizer que este grupo representa os grandes consumidores culturais mas são, no entanto uma minoria. Por outro lado temos os públicos retraídos que representam a correspondência entre fracos recursos qualificacionais e escassos hábitos culturais. Para além destes dois segmentos polarizados do público, é importante também referir os públicos displicentes. Este grupo, de perfil bem menos linear, caracteriza-se por elevadas qualificações, nomeadamente escolares, hábitos de saída convivial regulares mas por outro lado apresenta uma rara frequência em eventos e equipamentos culturais.
Esta tipologia dos públicos permite uma análise que assente nos efeitos de correspondência entre perfil social e padrão de práticas culturais. Este estudo e a identificação de um grupo como os públicos displicentes leva-nos a um problema: Se a posse de recursos qualificacionais não se traduz automaticamente na concretização de práticas culturais, que outros factores analíticos e que outros instrumentos teórico-metodológicos poderão fornecer alguma explicação adicional.
Este estudo permitiu-nos concluir que a análise através de inquérito é limitada pois não permite uma abordagem mais qualitativa, exemplo disso é o lapso de informação atrás referido. Neste texto o autor pretende reflectir sobre as potencialidades e limitações heurísticas do inquérito, enquanto instrumento metodológico. Dentro dessa reflexão este procurou enfatizar a segmentação de públicos através da elaboração de tipologias e chegou á conclusão que é necessário aprofundar, talvez através de um meio complementar ao inquérito, de forma a se obter uma informação mais qualitativa.
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